Em entrevista exclusiva a Edson Lima, a Psicóloga e Especialista em Terapia de Grupo e Comportamentos Escolares, Mychelle Cristina, fala sobre o impacto da ansiedade no ambiente familiar durante o isolamento social. Segue um resumo da conversa realizada em novembro de 2020 por telefone.
EDSON LIMA: A ANSIEDADE É SEMPRE NEGATIVA?
MYCHELLE CRISTINA: Não, existe uma diferença entre ansiedade e ansiedade patológica. De um jeito didático, vou tentar resumir as principais diferenças entre elas. Tendemos a acreditar que a ansiedade está ligada a algo “ruim” e esse é o primeiro paradigma que temos que mudar. Na verdade, ela foi essencial para que nossa espécie pudesse chegar até aqui. Como assim? Ao analisarmos o contexto da evolução do homem, observamos que os sinais e sintomas gerados por ela auxilia nosso organismo em situações de perigo, o colocando em estado de alerta. Assim, quando você precisa sair de uma situação que representa perigo, esse mecanismo é “ativado” no sistema nervoso e uma série de reações que nos possibilitará “escapar” desse contexto são eliciadas, entre elas, o aumento dos batimentos cardíacos, sudorese, pensamentos rápidos, agitação motora, falta de ar e outros.
A grande questão é que, atualmente, nossos “perigos” são diferentes daqueles de antigamente (lá na pré-história) e, enquanto espécie, pouco adaptamos esses sintomas a realidade atual. Além disso, vale lembrar que pouquíssimas vezes ouvimos falar de educação emocional durante nossa vida. Só que, principalmente hoje, ela é essencial a nossa adaptação aos processos sociais que enfrentamos (quarentena não me deixa mentir). Resultado de tudo isso: ao identificarmos que uma situação representa um potencial “perigo” (e aqui eu me refiro a tudo que ameaça o equilíbrio físico e/ou mental), todos esses sintomas são eliciados.
Quando isso passa a ser um transtorno de ansiedade? Depende de três fatores: A frequência que ocorre em um período de tempo, intensidade e latência (contagem do tempo desde o início até o fim do episódio). Juntos, esses três fatores nos mostram quando um episódio de ansiedade passa a se tornar um potencial distúrbio de comportamento.
SITUAÇÃO EMOCIONAL DO BRASIL
✔️ Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) mostram que 5,8% dos brasileiros sofrem de depressão. Essa é a maior taxa da América Latina e a segunda maior das Américas, estando atrás apenas dos Estados Unidos.
✔️ Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) mostram que 5,8% dos brasileiros sofrem de depressão. Essa é a maior taxa da América Latina e a segunda maior das Américas, estando atrás apenas dos Estados Unidos.
✔️ Os dados futuros são ainda mais preocupantes: estima-se que 20% da população teve ou terá depressão, sendo a doença psiquiátrica com maior prevalência no Brasil.
✔️ Os números em relação à ansiedade também não são nada animadores: 9,3% dos brasileiros (cerca de 19,4 milhões) sofrem com o problema e faz com que o Brasil ocupe o primeiro lugar da lista de países mais ansiosos do mundo. O suicídio é a terceira principal causa externa de mortes no país, com 12,5 mil caos em 2017, de acordo com o Ministério da Saúde.
✔️ No Brasil, 5,8% da população sofre de depressão, taxa acima da média global, que é de 4,4%. Isso significa que quase 12 milhões de brasileiros sofrem com a doença, colocando o país no topo do ranking no número de casos de depressão na América Latina, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
EL: COMO A ANSIEDADE TEM AFETADO OS RELACIONAMENTOS FAMILIARES NO CONTEXTO DE ISOLAMENTO?
MC: Segundo alguns estudos publicados recentemente, os impactos emocionais associados à situação de isolamento social estão relacionados a sentimentos de medo, ansiedade, raiva e confusão. Além disso, existem alguns fatores do ambiente (meio onde a pessoa está inserida) que podem influenciar em maior ou menor grau, sendo esses: confusão ou ausência de informações; ausência de liberdade; impossibilidade ou quebra abrupta na rotina e atividades diárias (trabalho, escola, lazer, relacionamentos, etc.). Antes da pandemia, cada membro da família tinha uma rotina. Porém, com o convívio mais próximo e sendo influenciado pelas questões emocionais, nossas relações se tornaram mais suscetíveis à interferência das demais pessoas e situações a nossa volta, colocando em choque perspectivas diferentes sobre assuntos cotidianos, que agora ganharam maior visibilidade. Consequentemente, abre-se um espaço para maior diálogo entre os membros envolvidos, facilitando ou não o surgimento de desentendimentos com maior ou menor frequência.
EL: COMO A ANSIEDADE AFETA A APRENDIZAGEM?
MC: Hoje já sabemos que, até certo ponto, a ansiedade tem seus efeitos positivos para a aprendizagem, uma vez que auxilia no engajamento e execução de tarefas. O problema passa a acontecer, quando os níveis de ansiedade aumentam intensamente e o aluno começa a evitar contextos onde esses sinais e sintomas têm grandes possibilidades de estarem presentes. Assim, observamos comportamentos chamados de “procrastinação” acontecer com maior frequência.
Além disso, a concentração também é prejudicada, o que tem relação direta com a dificuldade de memorizar e aprender um conteúdo. Dessa forma, devemos estar atentos a três aspectos relevantes: a frequência, a intensidade e o tempo de duração de cada episódio de ansiedade, bem como a relação com possíveis variáveis dentro desse contexto.
EL: NA PRÁTICA, COMO PODEMOS MELHORAR OU CONTROLAR A ANSIEDADE?
MC: Para uma pessoa que sofre de ansiedade, a sensação de estar no controle é vista como essencial. Porém, é necessário entender e refletir que, muitas vezes, essa sensação de estar no controle é algo ilusório. Muitos dos eventos que acontecem em nossa vida são fatores externos a nós, e não nos cabe responder integralmente sobre eles. Outro aspecto importante é evitar sobrecargas, isso pode parecer quase impossível para algumas pessoas, mas um bom planejamento do tempo pode ajudar muito e deixar visível o quanto de tempo hábil você possui ou não para se dedicar a uma tarefa. Um fato comum, durante os episódios de ansiedade, é o excesso de pensamentos. Assim, questionar de forma racional sobre a veracidade desses pensamentos pode ajudar a discernir o quanto eles de fato representam um “perigo” ou não.
Algumas práticas podem ajudar muito no controle da ansiedade, tais como: mindfulness (prática meditativa muito estudada e indicada para pacientes ansiosos); técnicas de respiração (indicadas para os momentos iniciais do episódio de ansiedade, auxiliando no controle dos sintomas); praticar atividades físicas regularmente e manter uma dieta equilibrada com acompanhamento profissional. O diagnóstico e acompanhamento de um profissional capacitado é de grande relevância para o tratamento dos efeitos e dos sintomas gerados pela ansiedade.
A regra é clara: adolescência é período de conflitos. Afinal, dificilmente o choque das gerações será superado de uma maneira totalmente pacífica ou sem pontos de vista diferenciados. No entanto, é possível, sim, manter uma convivência saudável desde que ambas as partes cedam e partam para um diálogo aberto sobre assuntos diversos, polêmicos ou tabus, passando por superficialidades a comportamentos diários.
A adolescência é um período de grandes mudanças físicas e emocionais próprias desse período em que os hormônios estão, literalmente, em ebulição. Soma-se a isso a pressão social, muitas vezes, afetando a autoestima e comprometendo o bem-estar dos jovens.
Um professor de filosofia pergunta a uma classe do primeiro ano do Ensino Médio: “Qual é a pior frase que um adolescente pode ouvir?” Como nenhum jovem se arrisca a responder, o que é bem típico da idade, ele mesmo declara: “Fulana, você é igualzinha a sua mãe!”
É possível encontrar vários conselhos dados a pais de adolescentes. Um deles é que o responsável adquira um cão de estimação. A justificativa é simples: para alguém ficar feliz quando você chegar em casa.
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SOBRE A AUTORA:
Mychelle Cristina é especialista em Psicologia Hospitalar pelo Hospital Israelita Albert Einstein, especialista em Transtornos Comportamentais Escolares, especialista em Terapia de Grupo e graduada em Psicologia Clínica.